domingo, 19 de junio de 2011

Carta del Portugués a mi padre


Filho:

A chata era tan alta que entraba uma pessoa parada debaixo do carro. Tiraban de ele dezoito cavalos gordos, matungos, pois chevabamos cem bordalezas de vinho. As bordalezas son toneles, barris grandes de moitos litros, duzentos litros, que nós llevabamos do Comodoro Rivadavia a Porto Balmaceda, no Chile.
Nós estávamos indo em caminho tres meses de Patagonia, vento y deserto, tres meses de solidão e frío. Meu irmão Manuel tinha tres días de caminho atrás, com sua chata e suos toneles gordos, também, de vinho preto, espumoso.
Como o frío nos pelaba os ossos, nós estávamos dele tomar o vinho, nosso vinho, nosso tonel de vino cenchi, um vinho que calentaba-nos a sangre, que nos quemaba as tripas, pois o frío era tão duro, tão frío que os dedos se nos facían pedras. Tomamos y tomamos até que nosso vinho acabou.
Então, vinhou o peón e falou assim:
―Don Juan, ¿le damos a una de las que hay para vender?
E eu pensou: quedan duos meses de caminho, sem vinho o vento convertira-nos em cuero seco. E eu não posso guiá uma caravana de homes secos.
Então seguimos atravessando o deserto da Patagonia tomando o vinho da venta. O vinho mais preto, mais noite: o vinho roubado.
Aquela vez quando cruzamos o Río Mayo, um río que está chegando na frontera com Chile, varios de meus cavalos se envararon, ficaram pasmados do frío das aguas. Eram como estatuas de cavalos, tiesos, com os pelos duros, puntudos, como as espinhas do Cristo. Então, eu tomé meu facón e fiz um tajo nas venas dos animales, um corte ligero na jugular dos cavalos, e brotó um fio lento de sangre preta, gelada, sangre como vinho frío, gelado como os vinhos do verano.
¿Você pode acreditar? As bestas brutas, duras do río gelado, com sua sangre brilhando do sol.
Na margen de aquele río passamos duas noites para que as bestas repusieram-se do pasmo das aguas. E depois de encher a bordaleza vazía com agua do río, voltamos novamente para nevado caminho.
Ao chegar a Porto Aisen, vinhou o homen da despensa, probou, e logo comprou tudas as bordalezas da venta. O peón baixou umo a umo os toneles, e deixou umo delos para nós, em nossa shata, de maneira que voltassemos a Comodoro com um tonel pleno de vinho, deixando a agua do Río Mayo na despensa do chileno.
Mas o roubo foi mal feito. Nós não éramos ladrões. E o peón foi um pouco tontinho, porque baixou a bordaleza errada e deixou para nós as aguas.
Graças a Deus, meu irmão Miguel veio a poucas horas de caminho com sua própria bordaleza cheia de vinho preto, congelato, como um vino de neve.*









* Carta imaginaria escrita por mi abuelo, el portugués, a mi padre, en un portuñol macerado por la estepa patagónica. Mi homenaje, para ellos, en su día.

1 comentario:

Alibruji dijo...

¡Gracias, Marisa, por compartirlo!